Eu Viajo com Filhos

Turismo aventura com filhos pequenos? Mais simples do que você imagina.

Turismo aventura com filhos

Viajamos com nossas filhas Giulia (6) e Giovanna (3) desde que eram bebezinhas para montanhas, praias, cachoeiras, ilhas e natureza selvagem. Sempre ouvimos comentários de amigos e parentes que também tem filhos pequenos do tipo: “Vocês são loucos, como conseguem fazer essas viagens malucas e ainda com filhos a tira colo?” “Que empenho, dá muito trabalho, é perigoso”.

 Turismo aventura com filhos pequenos

Acredito que o gosto pelo hábito de viajar, principalmente para os pequenos viajantes, vem não apenas da experiência, mas do que realmente fica de vivência.  Uma viagem em meio a natureza tem esse ingrediente muito presente para as crianças desde que seja bem planejada.
Muitos pais acreditam que levar os filhos ao shopping center, ao parque de diversões, a Disney ou Beto Carreiro, enchê-los de presentes e jogos eletrônicos ou levá-los a festinhas de aniversários em buffets artificiais mega-equipados já são iniciativas que proporcionam diversão e experiências suficientes para seus filhos. Grande engano. Aquelas cabecinhas imaginativas e pulsantes estão a mil por hora sempre
curiosas, prontas para novas experiências e principalmente para o inusitado e a novidade. Nessa fase da vida a criança é tocada por tudo que a encanta. Mas para isso há que se ter criatividade, boa vontade e esforço dos pais. Entretanto nada muito diferente dos programas comuns quando se trata de programa aventura. Com uma diferença: a emoção está presente e fica registrada na memória de cada uma dessas cabecinhas.
Sou montanhista e andarilho há muito tempo e sempre gostei de viajar para lugares com pitadas de desafio, aventura, rusticidade e simplicidade. E foi aí que decidi com minha mulher que quando
nossa primeira filha nascesse iríamos leva-la conosco para todos os cantos proporcionando a ela formas diferentes de ver e sentir o mundo e as pessoas. Olhar o novo, conhecer as diferenças, viver culturas, trabalhar determinação e auto-confiança e saber curtir a simplicidade são essenciais para a formação de uma criança e uma viagem pode proporcionar todas essas sensações e outras tantas em apenas um ou dois dias de saída. Basta pisar fora de casa e partir.


Um passeio que sempre fazemos com nossas filhas e recomendo para os curitibanos e quem vier a Curitiba com filhos pequenos é descer a serra do mar e estar entre as montanhas em meio a mata atlântica preservada. O trecho da serra no Paraná guarda a maior área contínua de floresta atlântica em estado bruto do país e a memória do passado em caminhos históricos como o Caminho do Itupava que era percorrido por índios e colonizadores desde o século XVII do litoral ao primeiro planalto de Curitiba.
O passeio começa em grande estilo. Saindo da rodoferroviária de Curitiba de trem que percorre uma estrada de ferro centenária construída ainda no século XIX. Mas a preparação da viagem começa na
noite anterior com os lanches de trilha, equipamentos, roupas e apetrechos já envolvendo as pequenas nas tarefas e preparo. Ali elas começam a se sentir parte da aventura. A expectativa é tanta que às 6h30 da manhã elas já estão em nosso quarto antes do despertador tocar dizendo: Pai, mãe tá na hora de ir para o Marumbi. Pegamos a tralha de trilha e o trem serra abaixo. Embarcamos as 8h15 e a viagem é única, entre túneis, cachoeiras, desfiladeiros e um visualarrebatador. Tudo aquilo é diversão que não acaba mais para os pequenos, afinalqual criança não adoraria fazer uma viagem de trem.  Por volta das 10h30 da manhã chega-se a velha estaçãoMarumbi onde os montanhistas apenas desembarcam rapidamente antes do tremseguir para Morretes, seu destino final. Lá na estação há um controle de entrada no Parque Estadual do Marumbi e o IAP e o Grupo Cosmo de salvamento na montanha estão sempre a postos para garantir a segurança dos visitantes e também a preservação do ecossistema local. 
 
O conjunto do Marumbi como é conhecido é um conjunto de vários picos com o mais alto deles o monte Olimpo de 1539m.  Mas há vários outros menores que podem ser alcançados com maior ou menor grau de  dificuldade dependendo das condições de clima e do próprio montanhista. Para as pequenas, como minha filhinha menor Giovanna há mochilas para carregá-las montanha acima e abaixo tranquilamente e há lojas especializadas para comprá-las. São úteis na praia também e todo tipo de viagem. Já para crianças acima de 5 anos já recomendo acostumá-las às caminhadas pois já tem disposição para pequenas andarilhadas. Giulia já é conhecedora da região e adora seguir as trilhas. Uma dica para quem quer iniciar os filhos na aventura – leve e com segurança – é ter os equipamentos certos, consultar especialistas, operadoras ou órgãos responsáveis locais e ainda começar pouco a pouco para não exigir demais dos pequenos exploradores. Na trilha outra excelente dica para disfarçar o cansaço e os obstáculos que surgem ao longo do caminho é envolver a criança na caminhada. Orientar para os detalhes, mostrar curiosidades da mata – pegadas, tipos de plantas, sons dos animais, da mata, das cachoeiras e tudo que chama e segura a atenção da criança. Outra prática que costumo fazer é desenvolver de leve o espírito aventureiro e de liderança delas ao pedir para que elas observem as fitas e  marcações que são colocadas ao longo das trilhas para orientação. 

 
Dessa forma sentem-se responsáveis, ousadas e ficam atentas a tudo e ao desafio de guiar literalmente os pais em uma caminhada. Tudo vira uma diversão com uma dizendo a outra que viu a fita antes, que ouviu a cachoeira antes, ou que identificou um pé de palmito primeiro. As paradas para o lanche de trilha então são únicos. Basta escolher um lugar divertido e atraente como um ponto na beira do rio, ou uma cachoeira. Além de parar para descanso e uma boa comida elas se divertem jogando pedrinhas no rio e se molhando na água gelada da montanha. Na região do Marumbi não há hospedagem e apenas pernoita-se por lá quem vai acampar (há área para camping específico) ou quem conhece algum morador escalador pela área como é o nosso caso. Senão a alternativa é ao final do dia descer até Porto de Cima e ficar em qualquer uma das agradáveis pousadas próximas ao rio Nhundiaquara. Uma que
gostamos muito é a do Santuário Nhundiaquara com lindas instalações em meio ao pé da montanha, com excelente comida e paisagismo. 
 
O café da manhã de lá acompanhado de inúmeros passarinhos de várias espécies: saíra sete cores,
tiê-sangue, sanhaços, canarinhos, cambacica e beija-flores que literalmente vão a sua mesa pegar migalhinhas de pão e frutas, encantam os olhinhos das pequenas de forma arrebatadora. Há outras pousadas até a cidade de Morretes – pequena cidadezinha conhecida pelo Barreado e seu casario. Vale também muito uma ida até a bela Antonina com sua história, a ponta da Pita e a baía de antonina, as balas de banana e os festejos ao longo do ano. Mas para quem não pretende pernoitar, há opção de retorno no mesmo dia de trem que sai da Estação Marumbi de volta a Curitiba aproximadamente às 16h00. A viagem de volta é mais lenta e um pouco mais cansativa, mas a vinda ao Marumbi vale a viagem.  A chegada de volta à Curitiba é no início da noite.
O Marumbi com suas curvas e trilhas tornou-se parte da minha vida quando eu tinha aproximadamente 10 anos e fui visitar minha bisavó Hercília Pinheiro Lima Sottomaior já no alto de seus noventa anos e ela me mostrou uma medalha que dizia – “a primeira mulher a escalar o Pico do Marumbi em 1901 aos 13 anos de idade”. Aquilo me impressionou  de tal forma que nunca mais saiu da minha cabeça. Até hoje vejo aquela imagem. Aos 16 anos fui pela primeira ao Marumbi com um grupo de amigos e desde então virei andarilho, montanhista e viajante. E o Marumbi, agora com minhas filhas e esposa tornou-se um de nossos mais significativos refúgios.

Outras dicas importantes para quem vai fazer turismo aventura com filhos

• repelente

• lanterna

• mudas de roupas para trocas

• comida,

• primeiro socorros

• garrafas para encher de água na trilha

e muita disposição.

Mas economize no tamanho da mochila.  No mais leve o espírito para o novo e o desafio. Vale a pena.

 

O MARUMBI

O Pico do Marumbi foi conquistado no dia 21 de agosto de 1879. Como o perfil do conjunto montanhoso é mais imponente visto do Porto de Cima – Morretes, foi de lá que partiram os conquistadores Joaquim Olympio de Miranda (líder), Bento Manoel de Leão, Antonio Silva e Antonio Messias. Esta caravana foi seguida de muitas outras no início do século XX, destacando-se aquela de 1901 da qual participou a primeira mulher a escalar o Marumbi, a senhorita Hercília Pinheiro Lima, de Antonina. Também foi notável a expedição de 1902, organizada por José Nogueira, da qual participaram Olympio Trombini, Bernardo Bittencourt e outros cidadãos morretenses.

 

Jean Sigel é pai de duas meninas: Giulia e Giovanna, marido de uma mulher: Tatiana. Montanhista, andarilho viajante e futeboleiro. Especialista em marketing, turismo e criatividade. Co-fundador da Escola de Criatividade

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