Meus pais, minha irmã e meu cunhado fizeram uma viagem de barco-casa pelos canais do País de Gales, eles gostaram muito e fizeram um relato da experiência perfeita para se feita em família!
Saímos de Londres fomos visitar Stratford Upon Avon, terra do Shakespeare. Lá tudo lembra o famoso escritor. A cidadezinha é bem atraente com casas antigas, ruas estreitas e bons hotéis e restaurantes. É cortada pelo rio Avon onde circulam barcos e caiaques. No dia seguinte seguimos viagem até um local chamado CHIRK MARINA. Lá nos aguardava um barco de 42 pés preparado para nossa aventura. Os barcos são longos e estreitos, próprios para navegar pelos canais.
Dentro era bastante confortável com uma saleta na parte dianteira seguida de uma pequena cozinha completa tipo motorhome. Em seguida havia uma cama de casal, um banheiro com chuveiro excelente e com água quente e mais uma cama de casal e uma saída para a parte posterior onde ficava o motor e o leme. Dentro do barco havia vários armários para guardar mantimentos e roupas. Se fizesse frio, podia-se inclusive usar calefação. Em poucos minutos tivemos uma aula de como utilizar o barco e noções básicas de navegação pelos canais. O programa consistia em seguir no primeiro dia até Ellesmere, cinco horas de viagem para fazer alguns poucos quilômetros. Isto porque a velocidade não pode ultrapassar 7 km por hora. Os motores são feitos com esta limitação. No início apanha-se um pouco até pegar o jeito de manobrar e dirigir o barco.
Uma das dificuldades é que ao dar marcha a ré, não se tem controle de direção do barco. Sempre que se encontra outro barco deve-se diminuir a velocidade para o mínimo a fim de não criar um balanço desagradável em quem está atracado à beira do canal. Há muitos barcos que servem de moradia para pessoas mais ou menos alternativas. Este rítmo possibilita apreciar a paisagem e saborear todos os detalhes do caminho. À beira do canal quase sempre há uma ciclovia onde pessoas a pé ou de bicicleta fazem seus passeios. Neste primeiro trecho de Chirk até Ellesmere passamos por um aqueduto bem bonito e tivemos de enfrentar 2 comportas que compensam os desníveis. Cada navegador tem que se virar para abrir e fechar as comportas.
É tudo manual e feito na base da manivela e de empurrar com o traseiro as paredes que se fecham. Mas sempre há os solidários que ajudam quem é marinheiro de primeira viagem. A solidariedade é muito grande entre os barqueiros assim como entre os campistas. Todos se cumprimentam quando os barcos se cruzam. Atracamos em Ellesmere, trancamos o barco e fomos caminhar até o centro do vilarejo onde encontramos um pub com bastante gente. Tivemos a impressão que era o único aberto pois o resto da cidadezinha estava deserta. Percebemos que ali os preços já eram bem inferiores aos de Londres e que as porções eram bem maiores. Difícil de dar conta de um prato sozinho. Retornamos ao barco para passar a primeira noite. Podemos dizer que foi tranquila e que dormimos muito bem até passar o primeiro barco ao nosso lado na manhã seguinte.
No segundo dia o percurso seria maior e devíamos calcular em torno de 9 horas. Foi muito bonito passar por túneis onde se tem que verificar se há alguém vindo em sentido contrário pois passa um de cada vez. Acende-se o farol e se preciso for, dá-se uma buzinada. Quem estava sentado na parte da frente sempre levava um susto com a buzina, normalmente era a Mônica. Na sequência, passa-se novamente pelas mesmas comportas agora no sentido contrário. A certa altura tivemos que parar, sair do barco e manualmente levantar uma ponte que serve de passagem para os moradores do local. Parece difícil mas um mecanismo hidráulico potencializa a força que se faz com a manivela. Depois de passar o barco, baixa-se novamente a ponte. Mais adiante chegamos ao ponto alto da viagem. Alto em pleno sentido pois navegamos num canal sobre um aqueduto de 38 metros de altura onde dos dois lados só se via um abismo sem nenhuma proteção lateral. É o famoso aqueduto PONTCYSYLLTE. Foi construído em 1805 e hoje é património da Humanidade. Dá uma sensação de perigo e de euforia contemplativa ao mesmo tempo. Seguimos navegando até encontrarmos um local com vista bonita e perto do Pub Sun Trevor para atracar e passar a noite. O único senão é que ao lado passava uma estrada bem movimentada que fazia um pouco de barulho. Na manhã seguinte fizemos o último trecho até chegarmos a Langollen. Neste trajeto, o canal fica muito estreito e por duas vezes sendo a maior de 500 metros, passa só um barco. O Dan seguia a pé pela ciclovia que acompanha o canal e andava até ter certeza que não havia nenhum barco no sentido contrário para então dar sinal de entrarmos no trecho estreito. Langollen é uma cidadezinha turística e bem movimentada. Circulamos por lá, almoçamos no restaurante The Corn Mill.
Retornando ao barco, falamos com o velhinho que estava ancorado ao lado e quando dissemos que era nossa primeira experiência nos canais ele ficou admirado e disse que escolhemos o mais difícil para começar. O retorno a Chirk Marina fez que passássemos novamente pelos canais estreitos e pelo aqueduto do abismo. Na volta soprava um vento muito forte que o barco não ía para a frente enquanto passávamos pelo aqueduto. Andamos mais um pouco até encontrarmos um local tranquilo, ao lado de uma fazenda de criação de ovelhas, para atracarmos para a noite. Desta vez fizemos o jantar no próprio barco e foi uma delícia. Na manhã seguinte, após o café da manhã viajamos mais uma hora até chegarmos na Marina onde devolvemos o barco e retornamos a Londres. No caminho ainda entramos em Warwick para almoçar e visitar um grande castelo que parecia um misto de museu de época e de museu de cera, onde havia personagens em tamanho real muito bem reproduzidos em cada ambiente. Depois soubemos que o último nobre que era dono do castelo vendeu o mesmo para o grupo de Madame Tussauds por uma ninharia, algo como 8 milhões de reais. Pegou a grana e foi viver na Espanha festeando.
Claudio e a Mônica são os pais da Patricia Papp – uma das autoras do Viajocomfilhos.com.br