Eu Viajo com Filhos

Istambul e Atenas com adolescentes

Istambul e Atenas

Em outubro fui para Istambul e Atenas com dois adolescentes de 15 anos. Não são meus filhos. Tenho 43 anos, sou solteiro, mas tenho a sorte de ter os filhos dos meus amigos para “emprestar” de vez em quando. Tinha combinado há alguns anos que quando o Pedro e a Marina fizessem 15 anos a gente iria fazer uma viagem bem legal juntos. A primeira vez que viajei com os dois, eles tinham apenas 10. Fomos passar o dia em Brasília e eles curtiram muito. Eu também.

A programação da viagem ficou por minha conta. Eles não escolheram o destino pois preferiram a opção surpresa. Descobriram para onde iam no aeroporto de Guarulhos. Escolhi Istambul e Atenas pelo conteúdo histórico de cada uma, pela facilidade de transitar pelas duas e por serem um tanto exóticas.

Istambul com adolescentes


Em Istambul ficamos no bairro de
Beyoglu, a uma quadra da Torre de Galata. Escolhi um apartamento do Airbnb por achar mais legal termos nossa própria casa na Turquia, mas também porque para fazer check-in em hotéis com dois menores de idade eu precisaria de uma autorização legal, traduzida, etc e tal. Nosso tempo por lá foi bem curto. Estávamos apenas com mochilas, por isso no nosso único dia na cidade, saímos de casa e fomos explorando a cidade até a hora de irmos para o aeroporto.

Nosso café da manhã foi no Café Privato onde eles escolheram o café da manhã típico do interior da Turquia. Foram dezenas de pratinhos com comidas deliciosas. Foi legal ver os dois experimentando tudo, mesmo o que tinha uma cara estranha. Tomaram suco de romã, café turco, geleia de ginja, lavash, queijo halumi e outras delícias turcas. Comemos tanto que não fizemos nenhuma outra refeição ao longo do dia. Em seguida descemos as ruelas do bairro até a Karaköy e pegamos o ferry-boat para o lado asiático de Istambul.

O ferry leva uns 15 minutos para cruzar de Karaköy para Kadiköy e dá para curtir o skyline de minaretes e arranha-céus. O lado asiático não é muito diferente do lado europeu. Queria mesmo é que os dois pusessem os pés na Ásia. Demos uma voltinha (estava meio chuviscando), passamos na frente do restaurante Çiya, que aparece no Chef’s Table do Netflix, e pegamos o ferry de lá para Eminönü, de volta do lado europeu, mas já perto do museu de Santa Sofia e da Mesquita Azul. Chegamos bem na hora da reza e os dois puderam ver como é normal as pessoas pararem um pouco para rezar e, quem não quer, continua a vida normalmente.

Entramos na Basílica de Santa Sofia pela fila expressa, que custa 15 dólares, 5 a mais do que a entrada normal, mas sem esperas (lembrando que nosso tempo era curto). Ali pudemos conversar sobre história, sobre o Império Romano, o Bizantino, a chegada dos Otomanos, os mosaicos, o Islã, o tempo. Daí vi que os dois realmente leram a apostila de História. O museu, que já foi catedral e mesquita é muito interessante pois mistura arte cristã e islâmica. De um lado os mosaicos bizantinos com Nossa Senhora, o menino Jesus e os imperadores romanos. Do outro, painéis gigantescos com os vários nomes de Alá. Ah, e muitos turistas.

A Mesquita Azul foi nosso próximo destino, mas como era hora da reza turistas tinham que esperar para entrar, então seguimos pelo Hipódromo e outras ruelas do bairro de Sultanahmet até o Grande Bazar. Eles ficaram impressionados de ver o primeiro grande shopping center do planeta e a quantidade de corredores e lojas. Que bom que não quiseram comprar nada. Entramos por um lado e saímos pelos fundos, já a caminho de uma das maiores mesquitas de Istambul, a Süleymaniye. Para entrar, tiramos os sapatos e a Marina precisou cobrir a cabeça. Mesmo assim tinha uma menina turca que discutia com a senhora da entrada, dizendo que não iria cobrir a cabeça. Ficamos observando a discussão até a menina ser gentilmente escoltada para fora. Pois é, há certas forças que são difíceis de mudar.

Já estava chegando ao fim do nosso dia em Istambul. Fomos de metrô para o aeroporto. Ao longo do dia não nos separamos, mas no aeroporto a Marina queria fazer compras no Free Shop e o Pedro queria ir ao Starbucks. Estabelecemos então um ponto de referência onde sempre teria um de nós e cada um foi para um lado. Queria deixá-los com um pouco de autonomia, afinal os dois já viajaram bastante e falam inglês. Mas confesso que fiquei um tanto apreensivo de largar os filhos das minhas grandes amigas num dos aeroportos mais movimentados do planeta. Pelo menos pelo canto do olho eu via o Pedro no Starbucks. Quanto ele voltou ao nosso ponto de referência, fui atrás da Marina e ela já estava voltando, feliz da vida com sua sacolinha de compras. Ufa.

Muita gente anda com medo de ir para Istambul. Confesso que acho um exagero. Nos sentimos muito mais seguros pelas ruas da cidade, tanto na noite quando chegamos quanto ao longo do dia de caminhada, do que nas ruas de Curitiba. Outro ponto de vista, ainda mais aqui no Viajo com Filhos, é dizer que não veria problemas de ir para lá com crianças, apesar de não ser nada fácil andar de carrinho pelas ruas de paralelepídedo e de não haver muita atração focada em pequenos. Já com adolescentes é uma cidade ideal porque dá para viver um pouco da história que eles já aprenderam na escola e há bastante exotismo sem ser uma cultura totalmente diferente da nossa. Digamos que é um experimento bem controlado.

 

Atenas com adolescentes

O segundo destino foi Atenas, onde ficamos um pouco mais de dois dias, também em um apartamento do Airbnb pertinho da Acrópole. O dono do apartamento se ofereceu para nos levar do aeroporto até a casa e foi bem engraçado pois com seu jeito grego, falando pouco inglês, nos assustou bastante com as regras da casa, as chaves, as portas. Demos muita risada ao longo dos dias pensando que ele deveria estar nos checando através de câmeras secretas. Chegamos tarde, cansados da caminhada por Istambul, comemos do lado do apartamento e dormirmos.

Atenas é a cidade ideal para adolescentes que curtem história e os dois sabiam muito mais do que eu. Estavam frescas na cabeça deles as aulas sobre Sócrates, Platão, a Guerra do Peloponeso, a Guerra de Troia e muita coisa de que eu já havia me esquecido. Começamos nosso primeiro dia com um café da manhã delicioso no Little Tree Books and Coffee, uma livraria e café na frente do Museu da Acrópole. O Pedro pediu iogurte grego com mel orgânico e frutas que foi cobiçado pelos três. Nos divertimos tentando adivinhar os nomes dos autores dos livros a nossa volta, todos em grego, mas que mascaravam no alfabeto cirílico nomes como Kafka, Proust e Fernando Pessoa.

O Museu da Acrópole é imperdível. É quase uma nave espacial moderna no meio de Atenas. Estão em exposição todos os artefatos encontrados ao longo de centenas de anos de arqueologia. Aprendemos sobre a história do Partenon, que já foi templo para a deusa Atena, foi igreja, mesquita, depósito de armas e agora é uma das ruínas mais famosas do planeta. Em seguida pegamos o metrô para a Praça de Syntagma no centro de Atenas onde vimos a estranha troca da guarda em frente ao Parlamento Grego. Os soldados usam umas roupas estranhas e caminham como se fossem garças. Dali subimos as ruas do bairro chique de Kolonaki até o funicular do Monte Licabeto, o ponto mais alto da cidade, de onde tivemos uma vista espetacular (mas ventava muito). Almoçamos no Yoleni’s, um mercado gastronômico delicioso em Kolonaki. Tem um wine bar, loja de produtos gregos, padaria, queijaria e um restaurante. Pedimos vários pratos de comidas gregas para experimentarmos e gostei de ver o quanto o Pedro e a Marina são abertos para provar novidades! Como o restaurante estava lotado (era sábado) e havia apenas duas pessoas servindo, resolvemos curtir e ficamos batendo altos papos na mesa. Consegui ser mais interessante do que o Twitter, pelo menos durante a refeição.

Bem alimentados, voltamos de táxi para perto de casa (táxi em Atenas é bem barato), descansamos um pouquinho (deixei eles atualizarem todas as redes sociais) para depois explorarmos a Acrópole e o Partenon. Lembrando que menores de 18 anos não pagam entrada, mas tem que levar o passaporte para mostrar na bilheteria. Subimos as escadarias, vimos todas as ruínas e ficamos um bom tempo admirando o Partenon. Há uma bandeira grega bem grande em um lugar de onde se tiram fotos incríveis. Dá para ver a cidade toda lá em baixo e há uma cacofonia dos sons vindo dos diferentes bairros atenienses. Resolvemos que iríamos esperar o pôr do sol para fazer fotos legais e como tem wi-fi lá em cima, os dois nem se incomodaram em esperar. Só que estava ventando bastante e meio frio, por isso depois de um tempo desistimos. Voltamos para casa para descansar um pouco antes de irmos jantar.

Sempre a pé, fomos jantar em Monastiraki. É um bairro bem animado, com centenas de restaurantes, um do lado do outro. Tem música, lojinhas de souvenires, ruínas e muita gente. Fizemos primeiro um reconhecimento da zona antes de escolhermos um lugar legal. Optamos pelo Kuzina. Deu para notar que temos um bom feeling pois o restaurante é recomendado pelo Guia Michelin. O rooftop é super concorrido, mas como não tínhamos reserva, ficamos perto da cozinha, que também foi legal porque é uma cozinha aberta e vimos os chefs preparando os pratos. Não é um restaurante barato, mas pelo estilo do lugar e pela qualidade da comida, tem uma ótima relação preço-qualidade. Eu, como sempre, bebi taças de vinho grego. Comemos muito bem e, de sobremesa, dividimos um sorvete de mastic, uma resina de uma árvore típica do Mediterrâneo, de onde veio o chicletes e o verbo mastigar. Na Grécia até chiclete tem história.

No domingo, nosso último dia de viagem, combinamos de acordar tarde, já que nosso voo de volta para o Brasil era às 6 da manhã de segunda-feira e teríamos que ir para o aeroporto às 3 da manhã. De café da manhã tomamos iogurte grego no Fresko, uma sorveteria-iogurteria da esquina da nossa casa. Dá para escolher que tipo de iogurte você deseja. Tem um de leite de cabras e três de leite de vaca, cada um com um teor de gordura diferente. Em seguida você escolhe os toppings, sempre saudáveis como nozes, castanhas, mel de acácia, mel de eucalipto, etc. Muito bom.

De metrô fomos para o Estádio Panatenaico, todo de mármore branco, onde aconteceram os primeiros jogos olímpicos da era moderna. De lá pegamos um ônibus para a Fundação Stavros Niarchos, quase no porto de Pireu. É uma construção gigantesca, assinada pelo famoso arquiteto Renzo Piano e onde ficam as novíssimas Ópera e Biblioteca Nacionais da Grécia. Almoçamos num restaurante meio fast-food ali mesmo. Pegamos um outro ônibus para voltarmos para Koukaki, o novo bairro dos hipsters atenienses e dali seguimos para casa a pé.

À noite fomos ao teatro no Centro Cultural Onassis assistir a uma peça em grego de um dramaturgo inglês moderno, com legendas. Os dois acharam a ideia legal, mas quando a peça começou, ficou difícil de acompanhar pelas legendas (estávamos na segunda fileira e as legendas estavam no alto do palco). Vi que tanto o Pedro quanto a Marina estavam sofrendo por estar ali, vendo uma peça louca, cheia de personagens, com muita fala, tudo em grego e eles sem poder acessar a internet. Eu até pensei em ir embora com eles, mas estava curtindo e seguindo bem a história, então pensei que aquele ali era o meu momento da viagem, que eles teriam que fazer o sacrifício de aguentar a peça já que eu tinha feito tanta coisa com eles kkkk. Foi uma peça de 3h30 e eles sobreviveram. Saímos do teatro a pé, pela noite de Atenas até chegarmos novamente em Koukaki para comermos alguma coisa. Eu queria visitar um wine bar que tinha apenas vinhos gregos de pequenos produtores e queijos locais chamado Materia Prima. Os dois toparam em me acompanhar (eles não teriam outra escolha) e ninguém no lugar fez cara feia de eu chegar num bar de vinhos, às 23h30 com dois adolescentes. Viva a Grécia. Eles devoraram os queijos e as azeitonas e um refrigerante que trouxeram. Eu degustei as duas taças de vinho, conversamos sobre a peça e sobre queijos (e sobre o povo estranho e a gente esquisita que foi juntando por ali).

Como ainda estávamos com uma fominha, fomos num restaurante de bairro aberto 24 horas por dia chamado Deliolanis. A comida estava com uma cara meio feia, então enchemos a barriga de sorvete de pistache, um dos melhores (e mais baratos) que provamos na vida. Demos muita risada porque ninguém falava inglês no lugar. Fomos tomando sorvete e conversando pelas ruas de Atenas, noite adentro. Em cada esquina víamos gente tocando violão, amigos conversando, monumentos iluminados e uma sensação de segurança que não temos por aqui. Chegamos em casa, arrumamos as mochilas e logo o dono do apartamento estava na porta para nos levar de volta ao aeroporto. Daria para ir de metrô facilmente, mas ele só abria às 6 da manhã, hora em que já estaríamos no ar, voltando para o Brasil.

 

Vicente Frare é sócio da Pulp Edições e autor do guias “manual de aViagem”, “Europa de CInema, “Paris para Amar Paris”.

 

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