Em abril de 2018, o Sesame Place, nos arredores da Filadélfia, Estados Unidos, tornou-se o primeiro parque do mundo certificado para receber autistas. A notícia é muito legal e a gente se empolga, mas com os dois pés no chão também é de se pensar que a novidade demorou. Mais ainda: se rolou em 2018 em um parque do primeiro mundo, quando este selo concedido pelo Conselho Internacional de Padrões de Credenciamento e Educação Continuada vai chegar aqui?
Paula Gugelmin Kasecker, psicóloga infantil, orienta pais a como se preparar para uma viagem com filho autista. “Existem vários graus de autismo, mas a grande maioria dos autistas se apega à rotina, não lida bem com novidades, tem dificuldades com a linguagem e com regras sociais. É comum pessoas que não sabem sobre o autismo considerarem a criança mal-educada. Outras, querendo ajudar, falam muito e deixam o autista nervoso. É preciso saber lidar e entender os limites do autista”, explica a psicóloga.
Paula foi superparceira do Viajo com Filhos para começar uma série especial sobre viagens com crianças com TEA – Transtorno do Espectro Autista. Confira as dicas:
Faça a história social
Monte uma história bem objetiva com a sequência do que vai acontecer. Use imagens reais de carro, de avião, do check-in, das situações que vão passar. “A previsibilidade é superimportante para preparar o autista para viver coisas novas. Ele precisa ver um ‘filme’ do que vai acontecer. Faça a história social antes de partir para o destino e na volta para casa também. Durante a viagem, antes de conhecer uma atração turística, mostre imagens desse lugar e conte o que a criança vai encontrar”, reforça a psicóloga. Paula recomenda ensinar a história social várias vezes. “Se a criança for muito ansiosa, os pais devem mostrar na véspera da viagem. Se não, é bom começar duas semanas antes. Cada caso é um caso”, completa.
Use o atendimento prioritário
Pessoas com TEA têm os mesmos direitos legais das pessoas com deficiência. “Autistas têm dificuldade para esperar. Antes de chegar no limite da criança, use o atendimento preferencial e evite desgastes ao longo da viagem”, diz Paula.
Foque no correto
A psicóloga alerta: “Diga sempre o que a criança tem que fazer e não dê o exemplo errado. Fale para ela ficar sentada em vez de dizer que não pode ficar em pé. Diga para permanecer com o cinto de segurança em vez de dizer que não pode tirá-lo.”
Trabalhe a motivação
Além de elogiar sempre o comportamento positivo, recompensas são uma boa estratégia, segundo Paula. “Sempre lembro os pais de levarem balinhas pequenas porque podem dar com mais frequência. Mas a criança não deve receber para se acalmar em momentos de crise. É uma recompensa por ter experimentado algo, esperado na fila ou ter cumprido um combinado”, explica.
Viagem com filho autista é treino
A psicóloga Paula dá três dicas rápidas para os pais:
- Comecem com passeios perto de casa, no parque ou praça. Fiquem pouco tempo e voltem. É importante não chegar no limite da criança autista.
- Para a primeira viagem, escolham um destino que não seja tão longe . Praias mais calmas e lugares sem muito barulho e agitação são boas opções.
- O hábito de viajar contribui muito para o desenvolvimento da criança com TEA. Com o tempo, não será mais preciso fazer a história social e a previsibilidade diminui.
Karina Hirami é jornalista e mãe da Bia de três anos.
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