“Gu, vamos para Cuba ver como as pessoas vivem por lá?” Essa foi a proposta que fiz para meu filho, quando resolvemos ir visitar a Ilha de Fidel e Che Guevara. Por causa da bagagem histórica e cultural, e por ser tão peculiar, a viagem foi de grandes aprendizados. Visitar Cuba com crianças não é nada convencional. Seria uma viagem diferente, e não tínhamos muitos planos de onde ir ou o que visitar. A única certeza era que queríamos vivenciar o dia a dia dos cubanos, que mexe tanto como nosso imaginário.
Assim, a primeira decisão: ficar em casa de família, afinal de contas, como vivenciar a vida dos cubanos se não for com eles? Hoje, com o Airbnb, está bem fácil achar casas para hospedagem.
Segunda decisão: fazer um roteiro um pouco diferente, e não muito turístico. Mas óbvio, conhecendo tudo o que tínhamos direito. Foram 8 dias, divididos entre Havana, Viñales e Guanabo – praia perto de Havana – afinal de contas, estamos em uma ilha né? Assim desenhamos nosso roteiro para aproveitar melhor cada dia.
Cuba com Crianças – primeira parada, Havana!
Nossa experiência em Havana já começou diferenciada com o táxi que nos pegou no aeroporto: um Ford de 1953, todo reformado pra fazer passeios (curiosidade: para abrir ou fechar o vidro o motorista precisava parar o carro, pegar a manivela que ficava no porta luvas, abrir a porta, encaixar a manivela e mexer no vidro). E fica a dica: como chegamos bem tarde em Havana – mais de meia noite, já tínhamos combinado o táxi com a dona da casa que iríamos nos hospedar. Ele estava nos esperando já com a plaquinha com nosso nome. Custo 30CUC – troquei o dinheiro no aeroporto mesmo.
Foi através do Airbnb que achamos a Casa da Eli! Uma casa de mais de 100 anos, em Havana Vieja. Quartos reformados para receber os hóspedes. Assim que o taxista nos deixou na porta da casa, já foi avisando: vocês vão encontrar a mulher mais encantadora de Havana. E não é que ele tinha razão? Com um sorriso enorme, e um abraço acolhedor, Eli nos recebeu como se fôssemos da família. Nos dias que ficamos em Havana, passamos horas muito gostosas de conversas com ela, amigos e familiares que deixavam a casa sempre cheia. Mas se você não gosta de convivência, sem problemas, a casa tem uma entrada separada para hóspedes também. Convivência que fez inclusive o Gustavo querer fazer no cabelo as tranças iguais do Raul – amigo que vivia na casa de Eli.
As casas que hospedam os turistas precisam ser aprovadas pelo governo, com isso todas precisam manter um padrão mínimo de estrutura, com banheiros, ar condicionado e água quente. Pagamos o café da manhã a parte, mas valeu a pena. Bem servido em todos os lugares: frutas, sucos pão, café..
E já que era para conviver com o povo local, foi aqui que Gustavo teve uma experiências “dolorosa”: resolveu fazer tranças em todo o seu cabelo, como alguns Cubanos. Não imaginou que fosse doer tanto, mas aguentou bravamente.
Preparados para conhecer a cidade, decidimos começar andando pelo Prado – Paseo de Martí (espécie de um calçadão, bem arborizado) que ficava a uma quadra de onde estávamos hospedados. Final do passeio, chegamos ao Capitólio Nacional, um dos edifícios mais impressionantes de Cuba. Enorme, se parece com o capitólio de Whasington DC. Mas estava em reforma, e fechado para visitação (abriu novamente para visitação jun 2018).
Cuba com Crianças – Habana Vieja
Ainda caminhando, resolvemos explorar Habana Vieja. Se você tem uma imagem de Havana, essa imagem certamente é Habana Vieja, com seus casarões coloniais e aqueles carros antigos, coloridos e conversíveis. Parte superturística e bem cuidada. Partindo da Calle Obispo, fomo apreciando museus, igrejas, fortalezas, praças e edifícios da época da colonização espanhola. Contraste entre edifícios suntuosos e outros que parecem que irão desabar a qualquer momento. Nos divertimos analisando a arquitetura das construções. Dependendo da idade da criança, esse passeio pode ficar um pouco cansativo. Gustavo – com seus 11 anos – se divertiu bastante. Passamos pelo Museu de la Revolución, Plaza de La Catedral, Plaza de Armas, Castillo de La Real Fuerza, Plaza Vieja, Plaza de San Francisco de Assis, entre outros. Dica: compramos um mapa impresso em uma casa de turismo (3 CUCs) para explorar essa parte da cidade.
Aqui que ficam também alguns dos restaurantes famosos – La Bodeguita del Medio e La Floridita.
A dica para conhecer com crianças (e adultos!) é a Camera Obscura – na Plaza VIeja (em uma sala escura e um jogo de lentes, que reflete toda a cidade de Havana).
Continuando nossas andanças, já saindo de Habana Vieja, passeamos no El Malécon, avenida beira mar de Havana (para ver o por do sol é lindo). De todo El Malecon conseguimos enxergar o Castelo de los tres Reyes del Morro, uma antiga fortaleza construída para defender a cidade.
E lá do lado do Castelo, já na Fortaleza San Carlos de la Cabaña, acontece o Canhonaço das 9”, um passeio interessante para crianças. Vale para mantermos a curiosidade de ver de perto um canhão sendo disparado. Mas para não se estressar, algumas dicas: vá mais cedo para pegar um bom lugar, pois é lotado, e leve um casaco e lanchinho. A cerimônia leva um tempinho, e o disparo é rápido, por isso fique atento. Para ir, pegamos um ônibus na Plaza Central (5CUCs), mas como termina tarde, tivemos que voltar de táxi.
Outra parte interessante para conhecer em Cuba é o bairro de Vedado, já mais moderno, mas ainda assim parecendo que estamos em um cenário dos anos 60. É onde fica a famosa Plaza de la Revolucion, o “cartão-postal” de Cuba. Ali, além dos prédios com os perfis de Che Guevara e Fidel Castro desenhados, se encontra o Memorial de José Martin. Dica é subir no Mirante do Memorial – 130m – de onde conseguimos enxergar toda a cidade da Havana de cima. Só fique atento ao horário. Chegamos um dia 17h e já estava fechado – tivemos que voltar. Para chegar até a praça, pegamos um ônibus de City Tour (10 CUC). Além de ir até lá, ainda passeia por outros lugares turísticos da cidade.
E foi com esse ônibus de turismo que chegamos até o Acuário Nacional – um passeio interessante para os pequenos. Atração fica por conta do show de golfinhos e, para quem quiser, nadar com um leão marinho (por 8CUCs). Gustavo foi e curtiu. Almoçamos no restaurante lá dentro mesmo, onde uma das paredes é um aquário que vivem os golfinhos. Mas lembrem-se: assim como as coisas de Cuba – fora os prédios e lugares turísticos – tudo é muito simples, mas lotado de crianças com os pais e excursões de escolas.
Um lugar que perdemos de conhecer – deixamos para segunda-feira e estava fechada! – foi a Sorveteria Coppelia. Olhamos apenas por fora, e tivemos que nos contentar em tomar o famoso sorvete na barraquinha que fica ao lado da sorveteria, mesmo ela não estando aberta. Nesse dia, a dica para voltar pra casa foi andar até a El Malecon, e pegar por 1 CUC um “trem-táxi” que anda toda a avenida, indo e vindo.
No próximo post vou contar como foi nossa experiência em Vinãles e Guanabo.
Para saber antes de ir a Cuba com Crianças:
> SIM!! Cuba trabalha com duas moedas diferentes, há mais de duas décadas. O Peso Cubano (CUP) que é a moeda usada pelos locais, que pagam suas contas e recebem salários e pensões. E o Peso Convertível (CUC), moeda usada para o turismo. É esse que nós usamos. A conversão é de 1CUC = 1 dólar americano.
(DICA1: NÃO leve dólares para trocar, as taxas são caras. Nós levamos EUROS. DICA 2: Leve o que for gastar em dinheiro, pois a grande maioria dos estabelecimentos não aceita cartões. Dinheiro pode ser trocado nos bancos (depois de esperar horas em uma fila, você entra no banco tipo departamento público anos 70 ou em “casas de câmbios” indicadas por cubanos de confiança. E não esqueça de levar o passaporte. Sem ele você não troca. Acabamos trocando mais dinheiro em um desses lugares indicados pela dona da casa que ficamos, mas não pense que vai ser mais rápido. Você enfrenta fila do mesmo jeito – as filas acontecem pois não são só turistas que trocam dinheiro nesses lugares, os cubanos também precisam trocar os CUCs pelos CUPs). Vá com paciência.
> SIM!! Internet para turista em Cuba é cara, não existe em qualquer lugar e, quando conseguimos usar é super hiper mega lenta. Funciona com um cartão, que você compra em lojas de telefonia – apresentando seu passaporte. Cada cartão vem com um número que você raspa, e dá direito a usar 1 hora de internet. (1hora = 1 CUC = 1 dólar). Mas não ache que você vai sair usando a internet em qualquer lugar. Depois de comprar o cartão, você tem que ir até algum lugar autorizado para usar a internet – pode ser algum restaurante, bar, hotel ou – no caso das cidades menores – na praça da Igreja. Nós acabamos comprando apenas dois cartões em todo tempo que estivemos por lá, e confesso que foi uma experiência deliciosa esquecer que existe celular e poder conversar, e conversar, e conversar com meu filho. Só assim nos damos conta como dependemos da internet, mesmo nos policiando um monte.
> SIM!! Cuba é muito diferente por que não existem lojas em todos os cantos da cidade… aliás, em canto quase nenhum. Farmácias são como aquelas de antigamente – de balcão. E supermercado… quer dizer… mercados, são pequenos, sem variedade de produtos, prateleiras vazias e sistema de pagar também antigo. Entrei pra comprar shampoo, e tinha apenas uma marca. Então vale a pena levar tudo daqui sim (remédios, produtos de higiene, protetor solar ou o que for precisar).
> SIM!! Cuba é um país muito seguro, e sem moradores de ruas, apesar de não parecer. Alguns lugares que andamos são lugares mal cuidados, prédios que parecem estar caindo, lixo na rua. Se fosse em outro país seriam ruas que certamente não passaríamos, mas em Cuba não tivemos problemas. A segurança, junto com a educação e saúde para todos, são os grandes orgulhos do povo cubano.
Telma é mãe do Gustavo. Juntos essa dupla se joga em muitas aventuras por lugares que muita gente nunca cogitou viajar… ainda mais com crianças!
Outro post sobre Cuba com crianças