Cabo Verde com crianças talvez não seja um o primeiro destino que venha na cabeça, mas deveria. Voos diretos do Brasil, viagem relativamente curta e grandes similaridades com o Brasil.
Passamos três semanas no pequeno arquipélago da Costa Oeste africana. O Gabriel, com recém-completos quatro anos, já está bem mais acostumado com viagens, mas seria a primeira viagem internacional da Teresa, que tinha apenas nove meses.
Foi aí que as similaridades com o Brasil ajudaram, principalmente com a alimentação. Em todos os restaurantes tinha uma sopa de legume ou canja de galinha. Pratos como “feijoada”, que na verdade é uma lentilha com chouriço, ou o típico catchupa, com diversos grãos (feijões, milho…), legumes e carnes estão entre os mais populares do país. Muito mais simples do que alimentar o Gabriel quando tinha mesma idade, em sua primeira viagem internacional pelos países Bálticos no norte da Europa.
Turismo em Cabo Verde com crianças
O turismo em Cabo Verde tem crescido ano após ano. Recebem voos de diversas cidades europeias, não só das capitais. Ingleses, portugueses, holandeses e outras nacionalidades fogem do inverno europeu para relaxar na beira da praia e nos resorts da região.
Quem quer praia vai para duas ilhas, Sal ou Boa Vista. Sal, que recebe a maioria dos voos internacionais, acaba liderando a procura, acolhendo mais de 50% dos turistas que frequentam o país.
Ao todo são dez ilhas, nove delas habitadas, todas conectadas por voos curtos ou ferrys. Acabam proporcionando experiências diferentes, dependendo do interesse que se tem no país.
Amantes de natureza e caminhadas vão para Santo Antão e Fogo. Já quem não dispensa um toque cultural, São Vicente e Santiago são os destinos mais procurados.
A maioria dos turistas vai somente para a praia, mas dependendo do tempo que se tem, o ideal é conciliar com alguma(s) outra ilha(s).
Roteiro em Cabo Verde com crianças
Ilha de Sal: o centrinho e os resorts
Existem basicamente duas cidadezinhas na Ilha de Sal: Espargos, perto do aeroporto e Santa Maria, onde estão todos os resorts. Um taxi do aeroporto até Santa Maria vai custar de 12 a 15 mil escudos, dependendo da sua capacidade de negociação.
Sal é uma ilha bastante árida e plana, portanto a principal atração é a praia com seu mar azul turquesa e esportes aquáticos. Existe uma infinidade de opções de hotéis e resorts, muitos com bandeiras internacionais. Quem prefere mais privacidade pode alugar uma villa ou apartamento.
Um novo calçadão, todo estruturado, foi inaugurado em julho de 2019, com diversas lojas, restaurantes e outros serviços para o turista. O píer começa co calçadão e segue na beira da praia. Por ali está o café/sorveteria Simply De Vine, bastante disputado. Logo ao lado tem a Eletrica Eletrical Bikes, que aluga bikes para conhecer a região. (20 euros meio dia/30 euros o dia inteiro)
Nesta parte do calçadão, além das lojas mais estruturadas, há diversas barraquinhas de ambulantes que vendem artesanato e lembranças do país. Devem desaparecer com a rápida urbanização e remodelagem que acontece em Santa Maria. A cidade está em transformação. Diversas obras e placas apontando investimentos e futuros hotéis estão por todos os lados.
Onde comer no centrinho
O centro é pequeno, basicamente a rua 1° de julho, que se transformou em calçadão e sua paralela, a rua Amilcar Cabral. Existem dezenas de restaurantes, bistrôs, creperias e bares. Um restaurante simples, que serve desde refeições locais por 3 euros até pratos mais requintados, como lagosta, é o Café Crioulo. Uma boa pedida em qualquer restaurante são os filés de atum, prato típico da região, saboroso e com bons preços.
O que fazer na Ilha de Sal
Existem algumas atividades extras que podem ser feitas na ilha, como visitar as piscinas naturais de Buracona, as Salinas de pedra Lume, ou até caminhar entre pequenos tubarões.
Diversas agências locais levam para passeios por toda a ilha, muitas delas na caçamba de caminhonetes ou em vans. Podem ser passeios de meio ou um dia inteiro. Dependendo da idade das crianças, pode ser algo meio cansativo. Além das bicicletas, também existe a possibilidade de alugar buggie e quadriciclos.
Mas sejamos justos, Sal é o tipo de lugar que se reveza entre piscina e mar, mar e piscina. Perfeito para quem quer tirar férias, ir para um lugar e relaxar. Um passeio pelo calçadão e uma refeição em um restaurante fora do hotel são boas alternativas para mudar a rotina das crianças.
Outro ótimo passa tempo, que as crianças adoram, é uma visita ao píer no final de tarde, onde pescadores organizam um pequeno mercado de peixe informal e jovens saltam ao mar fazendo acrobacias.
Ilha de São Vicente: a mais cosmopolita
Mindelo, a capital da ilha de São Vicente, é considerada a capital cultural do país, talvez a ilha mais cosmopolita de todas. O aeroporto da cidade é nomeado em homenagem a internacionalmente reconhecida cantora Cesária Évora. Apesar de ter cantado diversos estilos musicais, é considerada a “Rainha da Morna” gênero musical que é trilha sonora em qualquer canto da ilha.
Além do português e creole (uma mistura de português com línguas africanas) das outras ilhas, é fácil de escutar inglês e francês pelas ruas. Existem diversos hotéis e pousadas perto do centro, cercados por casas coloridas com arquitetura que lembra o passado da colonização portuguesa. Até uma replica da Torre de Belém esta na ponta do calçadão.
Os barcos ancorados na marina dão todo um charme para a cidade que está espremida entre o mar e as montanhas. Prédios como o a Casa do Povo, onde era a antiga sede do governo, e o Centro Cultural, vão bem além da beleza arquitetônica. Possuem diversas exposições e atividades culturais variadas.
Bem próximo do Centro Cultural tem um parquinho bem estruturado e seguro em uma praça. Pequena lanchonete, banheiro e muitas crianças para interagir. O fato de falarem a mesma língua ajuda bastante na interação.
Apesar do charme da cidade e proximidade com o mar-azul-piscina da Praia urbana da Laginha, acabamos ficando hospedados sete quilômetros do centro, na Praia de São Pedro, logo atrás do aeroporto.
Onde ficamos – hotel em Mindelo
O Resort Foya Branca tem quartos e apartamentos para famílias. Possui boa estrutura, mas foge (bastante) do estilo all-inclusive. A praia logo a frente é a mais protegida dos ventos que sopram na região. Mesmo assim tem estrutura para kite surf. Por ali também tem uma base de mergulho administrada pelo hotel.
No costão, ao lado direito da praia, se formam algumas piscinas naturais e cavernas que fazem a alegria da criançada. Uma trilha mais longa, de uns 3 km, leva até o farol Dona Amélia, passando por um estreito caminho entre o rochedo e o mar. É uma caminhada cansativa. Quem preferir, pode somente subir até o topo da falésia para aproveitar a vista.
Paredão de rochas vulcânicas na praia de São Pedro
No estremo esquerdo da praia fica a vila de pescadores São Pedro, onde existem pequenas vendas para qualquer necessidade, quando não se quer ir até Mindelo.
Vans têm horário marcado para ir e voltar até o centro de Mindelo, em um serviço que acaba funcionando bem. Importante ressaltar que você acaba ficando um pouco isolado e dependente dos serviços do hotel. A única alternativa, logo em frente, é o Bistrô Santo André, de um chef sueco que mora na região há algumas décadas. Ambiente caloroso e comida muito boa.
Um aluguel de um carro popular custa em torno de 30 euros a diária. Pode ser uma alternativa para um dia diferente. São Vicente é pequena, portanto não demora muito para chegar até a praia do outro lado da ilha. São somente 20 km por uma estrada pouco movimentada.
A Baia das Gatas é tranquila, água transparente e calma, muito boa para as crianças tomarem banho de mar. Mas por ali não tem as areias brancas das praias de Sal, ela é toda formada por pequenas conchinhas moídas. Não deixa de ser uma novidade para as crianças, que sempre adaptam suas brincadeiras. O Restaurante Take Away Atlanta fica logo em frente. É simples, mas possui boas refeições, inclusive montaram um prato especial para as crianças. As montanhas e barcos coloridos completam o visual da Baia das Gatas. Aliás, o Gabriel adorou ficar brincando nos barcos e os pescadores pareceram não se importar.
Não muito longe dali, a praia de Salamansa tem um pouco menos estrutura, mas também vale a parada. Tem uma longa faixa de areia fina, boa para brincar, mas o mar não é tão calmo. Menos protegida, venta um pouco mais também.
Quem não se sente confortável em dirigir, pode contratar um “alugueres”: carros que fazem passeio com motorista/guia. Custa um pouco mais caro, mas não deixa de ser uma alternativa.
O ponto mais alto da ilha fica no Parque Nacional Monte Verde, entre estas praias e Mindelo. Dá para ir até lá por uma pequena estrada de pedra que faz ziguezague pelos costões até chegar ao topo da montanha. Vista de tirar o fôlego!
Ilha de Santo Antão
Natureza. Isto que se pode esperar da segunda maior ilha de Cabo Verde. Paisagens dramáticas, montanhas de origem vulcânicas que emergem do mar formando costões. Para os amantes de trekking, esse é o principal motivo para conhecer o arquipélago.
Por enquanto nada de aeroporto, mas há dois ferries diários de São Vicente para Santo Antão. Demora aproximadamente uma hora.
Santo Antão
Algumas pessoas podem se questionar se é o destino mais adequado para se viajar com crianças. Depende muito do tipo de atividade que as crianças gostam, mas também dos pais. Conhecemos um casal de gaúchos que viajariam por três semanas com sua filha por Cabo Verde que só passariam um dia em Santo Antão. Nós passamos nove.
Foi disparado a ilha que mais vimos viajantes com filhos. Muitos com bebês, às vezes até menores que a Teresa. As famosas trilhas de Chã de Igreja e Cueva podem não ser adequadas para quem não está acostumado com longas caminhadas, mas existem caminhadas curtas como Chã de Padre, passando por paisagens belíssimas, entre plantações de café e cana de açúcar. Todo o vale possui pequenos vilarejos de vida calma, cheio de crianças na rua dispostas a brincar.
Existem alguns belos trajetos que podem ser feitos de carro, passando por paisagens inimagináveis:
A Estrada Velha, que liga Ribeira Grande até Porto novo, passando pela Cova (cratera do vulcão, ótimo cenário para contar histórias de dragões e outras que despertam a imaginação das crianças). Uma boa parada nesta estrada é o café/Restaurante Cozinha de Bento.
Estrada Nova (Porto Novo-Ribeira Grande) pela costa, com direito a parada em todas as cidadezinhas e mirantes para tirar fotos.
Ponta do Sol até Chã de Igreja. Mesmo quem não vai fazer o trekking de Ponta do Sol até Cruzinha (5-7 horas por uma trilha estreita entre o costão e o mar) vale muito a pena o trajeto pela estrada entre as montanhas. Paisagens exuberantes. As pacatas Chã de Igreja e Cruzinha não tem muita estrutura fora dos hotéis, mas já surgem pousadas mais descoladas como Kasa D´igreja e Haus am Weg. Ainda assim bem focadas em quem fez ou vai fazer a trilha.
Em Cruzinha, entre as portas coloridas, aos poucos começam a surgir pequenos restaurantes em casas de família, mas o mais procurado continua sendo o Sonafish. O Questel Bronq Resort fica mais isolado, já na saída para a trilha, porém tem excelente vista e restaurante aberto ao publico.
O aluguel de um Suzuki Vitara 4 x 4 custa aproximadamente 35 euros com o Seu Felino, em Vila das Pombas. Algo bem informal. Ele tem uns três ou quatro carros que aluga para turistas na sua frutaria. Nas cidades maiores com certeza existem mais alternativas. Aqui também os alugueres podem ser contratados para fazer passeios pela ilha. Para se deslocar entre as cidadezinhas, uma opção são os taxis coletivos, bem mais baratos e frequentes que os taxis comuns.
Ficamos hospedados no meio das montanhas, bem no topo do Vale do Paul. Um cenário que parecia uma pintura. O hotel Casa Maracujá fez com que nos sentíssemos em casa. O quarto era pequeno, mas o Gabriel adorou a cama em formato de carro.
Ele também ficou muito amigo dos filhos dos funcionários e algumas vezes até fazia refeições com eles. Sempre havia hóspedes com crianças e ele interagia mesmo sem falar a língua. A aproximação preferida era convidar as outras crianças para dar comida para as galinhas e coelhos que tinha na pousada. Algo que, morando em chácara no Brasil, domina com habilidade.
Até chegar ao topo do vale, existem diversos vilarejos. Comemos em alguns deles, como O Curral, bem organizado, produção local e tudo cuidadosamente organizado para parecer um restaurante típico. Bem focado para o turista e acaba agradando a todos.
Já o Bar Esplanada Juju, tem uma pegada mais local. Em cima da casa dela, em uma laje coberta onde funciona a cozinha e tem umas quatro mesas, servem a melhor “feijoada” (de lentilha) da ilha!
Uma coisa que sentimos falta na ilha de Santo Antão foi de cadeirinhas para crianças nos restaurantes, No nosso hotel tinha uma, bastante disputada por várias crianças. Nos restaurantes tínhamos que adaptar amarrando a Teresa com um lenço ou levar o carrinho guarda-chuva, que não era algo muito prático.
As principais cidades de Santo Antão são Porto Novo, Ribeira Grande e Ponta do Sol, mas mesmo assim são bem pequenas, já que em toda a Ilha moram menos de 50 mil pessoas. Em Ribeira Grande e Ponta do Sol existem diversos painéis e arte de rua espalhados. Há quem faça até um tour para conhecer todas as pinturas. Ponta do Sol não deixa de ser uma opção para quem quer um lugar mais estruturado, perto do mar. O Restaurante Caleta é uma ótima pedida, em frente aos rochedos.
Antes de ir para Cabo Verde com crianças
Voos:
A companhia TACV voa de quatro cidades brasileiras direto para Sal, a ilha mais turística de Cabo Verde. Os voos que partem do Nordeste, Salvador, Recife e Fortaleza duram em torno de quatro horas.
Em dezembro de 2019 inaugurou um novo voo, de Porto Alegre para Cabo Verde. Também não é muito longo, aproximadamente sete horas de viagem.
São aviões 757, aqueles com duas fileiras de três poltronas. Costumavam atrasar, mas a cia aérea tem se esforçado para melhorar a qualidade e, inclusive, tornar Cabo Verde um hub de viagens com bons preços para a Europa.
Vistos para Cabo Verde:
Brasileiros (ainda) precisam de visto. Já existe uma aproximação diplomática entre os dois países caminhando para a isenção, mas não é o caso no momento.
Existem três formas de tirar o visto:
Embaixada em Brasília (via correio). Um pouco mais burocrático.
E-visa: https://registration.
Visto na chegada:
É possível chegar sem o visto e emitir diretamente na chegada. Li relatos que em alguns casos é até mais rápido do que quem já tem tudo pré-agendado, pois são filas separadas. No nosso caso foi mais demorado. Custa 25 Euros.
Taxa Turística:
Recentemente foi implementada uma taxa turística de 31 Euros. Crianças menores de dois anos não pagam.
Moeda de Cabo Verde:
A moeda oficial é o Escudo Cabo Verdiano, mas o euro é usado normalmente. Nas ilhas mais turísticas inclusive as moedas, não só cédulas de euro. Pode parecer prático, mas você acaba gastando 10% a mais em todos os serviços, pois a cotação oficial é de 1 Euro para 110 Escudos. Todos usam o cambio de 1 euro como se fosse 100 escudos, portanto troque dinheiro em um banco para seu dinheiro render mais. É fácil de trocar de volta caso não use tudo e a comissão é bem baixa.
Clima no Cabo Verde
Em Santo Antão, devido a altitude, fomos surpreendidos por frio durante a noite. Mas de forma geral a temperatura se mantém entre 20 e 30 graus o ano todo em todo o país.
Entre dezembro e fevereiro sopra o vento Harmatão, que leva poeira do Deserto do Saara até algumas ilhas do arquipélago. O céu pode ficar encoberto e amarelado. Mas nada que atrapalhe uma viagem.
O Guilherme é casado com a Bianca e pai do Gabriel e da Teresa. Autor do blog Saiporai.com do Instagram e de 4 livros:
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Patagônia de carro com crianças